Entrevista com Dr. João Paulo Souza, Diretor da BIREME, por Caio Portella

João Paulo Souza, com uma carreira dedicada à saúde pública e ao avanço científico, atualmente dirige a BIREME, uma instituição referência na disseminação de informações de saúde na América Latina e Caribe ligada à Organização Panamericana da Saúde - OPAS. Nesta entrevista, João Paulo discute a influência revolucionária da inteligência artificial (IA) na manipulação e no aproveitamento dos dados científicos em saúde, refletindo sobre os desafios, oportunidades e o futuro desta interseção.

Caio Portella: Dr. João Paulo, como a inteligência artificial está atualmente sendo aplicada na gestão do conhecimento em saúde e quais são os avanços mais significativos que você observou?

João Paulo Souza: Inicialmente, utilizamos a IA através de métodos quantitativos e aprendizado de máquina. No entanto, a revolução mais significativa tem sido a adoção de redes neurais para processamento de texto. Essas tecnologias aceleraram nossa capacidade de análise e transformaram como convertemos dados em informações práticas e acessíveis para profissionais da saúde. A IA agora está facilitando diagnósticos mais rápidos e precisos e personalizando tratamentos com base em algoritmos que preveem resultados de saúde.

Caio Portella: Quais são os principais desafios que você enfrenta na implementação da IA e quais são suas implicações culturais?

João Paulo Souza: Os avanços tecnológicos, apesar de promissores, trazem desafios significativos. Há implicações culturais profundas; por exemplo, os modelos de linguagem podem inadvertidamente moldar ou distorcer normas culturais e sociais. A monopolização das ferramentas de IA por grandes corporações também pode limitar o acesso às inovações em economias menos desenvolvidas. É crucial democratizar o acesso à IA para evitar desigualdades na saúde global.

Caio Portella: Como a IA está transformando a pesquisa científica e a formulação de políticas de saúde?

João Paulo Souza: A capacidade da IA de processar vastos conjuntos de dados pode transformar radicalmente a pesquisa em saúde, acelerando a produção de publicações científicas e melhorando a precisão das revisões de literatura. No entanto, devemos estar atentos aos riscos, como a possível perda da habilidade humana de sintetizar complexidades científicas de forma crítica. Embora promissora, a tecnologia deve ser aplicada cuidadosamente para evitar uma dependência excessiva que pode comprometer a integridade científica.

Caio Portella: Quais são os planos futuros para a BIREME em relação à IA? Como vocês estão se preparando?

João Paulo Souza: Estamos otimistas quanto ao papel da IA na melhoria contínua dos nossos serviços de informação em saúde. Atualmente, trabalhamos para incorporar o processamento da linguagem natural em nossas interfaces, tanto na busca quanto na recuperação de informação. Outra frente tem sido o desenvolvimento de 'superresumos' automatizados e precisos, um projeto que visa integrar resumos de alta qualidade nos registros da BIREME. Essas iniciativas não só aumentam a eficiência, mas também garantem que decisões clínicas e políticas sejam baseadas nas informações mais confiáveis e atualizadas.

Caio Portella: Finalmente, quais recomendações você daria para profissionais de saúde e estudantes sobre como abordar a IA?

João Paulo Souza: Encorajo todos a não apenas adotarem estas ferramentas, mas a entenderem profundamente como elas funcionam e a permanecerem vigilantes sobre suas implicações. É crucial ter literacia em IA e adotar uma abordagem crítica na avaliação da informação científica produzida por estas tecnologias.