Luis Fernando de Castro Vascon é doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da UNESP (Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília-SP). Pesquisador do Observatório de Segurança Pública da Unesp (OSP) e Laboratório de Análise de Realidades Virtualizadas (LAREVI).
Realidades virtualizadas e o contexto brasileiro
O livro Realidades virtualizadas e o contexto brasileiro: problematizações e resistências é uma coletânea publicada no ano de 2024, que parte da premissa de que o virtual não substitui o real, mas o transforma, criando assim realidades virtualizadas onde tempo, espaço e relações sociais se reconfiguram. Organizada em duas partes, a coletânea combina quatorze artigos com reflexões teóricas e estudos empíricos, abordando em um primeiro momento, as problematizações das realidades virtualizadas, e posteriormente, as resistências que emergem nesse contexto.
Problematizações das realidades virtualizadas
A coletânea inicia-se com o trabalho de Luís Souza, com o capítulo Big-Techs, Big-Data e Big-Brother: notas de pesquisa sobre o estado de exceção digital e sua relação com o capitalismo de vigilância. O texto transcende os contornos modestos que o próprio autor lhe atribui. Onde Souza enxerga apenas “um ensaio inicial”, revela-se, na verdade, uma cartografia essencial para a navegação crítica em nosso presente tecnológico-social. Entre as possibilidades teóricas, o autor privilegia a abordagem do capitalismo de vigilância como lente interpretativa, não por acaso, mas por sua capacidade de articular dimensões fundamentais e interconectadas do texto acerca da atual fase do capitalismo: a dissolução das esferas autônomas da modernidade e um conluio entre governo, agências de vigilância, empresas de segurança e empresas de tecnologia. Souza revisita o panorama histórico-conceitual da vigilância eletrônica em seu período embrionário, anterior à consolidação das gigantes tecnológicas. Em seguida, o autor explora o capitalismo de vigilância como fenômeno socioeconômico característico do século XXI, dedicando uma atenção especial ao projeto urbanístico das smart cities, laboratórios urbanos onde a integração entre tecnologia e controle se manifestam de modo privilegiado, reconfigurando a experiência citadina sob o signo da eficiência monitorada. Por último, estabelece um diálogo entre os conceitos de estado de exceção [1], teorizado por Giorgio Agamben (2004) e necropolítica [2], na perspectiva de Achille Mbembe (2019). A intersecção dessas duas teorias em conjunto com as preposições de Shoshana Zuboff (2020), iluminam os contornos conceituais acerca do estado de exceção digital – condição na qual a suspensão de direitos e garantias individuais não mais se apresenta como evento extraordinário, mas como normalidade algorítmica cotidiana.
Continuando no eixo das problematizações, a coletânea destaca duas pesquisas empíricas que se debruçam sobre a relação entre segurança pública e o ciberespaço. A primeira, conduzida por Eduardo Dyna, Vinicius Figueiredo e Maisa Pereira, busca compreender a recepção e assimilação de conteúdos relacionados à violência e ao mundo do crime a partir da plataforma social X. Através de um mapeamento de vídeos e comentários, os pesquisadores perseguem uma questão central e provocativa: quais são as intenções subjacentes à disseminação de conteúdo relacionado ao mundo do crime? Em paralelo, Luis Vascon e Felipe Garcia tecem uma narrativa analítica sobre a representação virtual de dois parlamentares que mantêm vínculos orgânicos com as forças de segurança. Ancorados no arcabouço teórico de Pierre Bourdieu (2011) sobre o capital político [3], os autores examinam a construção narrativa destes deputados na plataforma Facebook, contrastando-a com suas ações efetivas no parlamento. O texto argumenta que a construção simbólica de uma imagem “militaresca” por parte dos deputados, especialmente no ambiente virtual, não se alinha de maneira plena às suas práticas políticas efetivas. Essa representação, mais do que refletir uma incoerência entre discurso e ação, revela-se sobretudo como um recurso estratégico voltada à conquista de um capital eleitoral.
Em diálogo com os textos anteriores, a contribuição de Renato Pereira desvela as raízes profundas de um fenômeno que, embora manifesto nas superfícies digitais do presente, encontra suas origens nas transformações mais fundamentais da modernidade. Fundamentado na concepção de Hannah Arendt (2012) acerca do totalitarismo [4], o cerne da análise de Pereira repousa sobre uma observação: a fabricação discursiva do “outro” como inimigo a ser combatido, enraíza-se numa peculiar ausência de experiência concreta com a realidade. Este esvaziamento experiencial, longe de constituir uma anomalia histórica restrita aos regimes totalitários do século XX, representa uma consequência direta e quase inevitável do progressivo declínio do espaço público na era moderna. Ao concluir seu texto, o autor aborda como a internet e as redes sociais, distante de representarem uma nova esfera pública, acabaram por criar bolhas virtuais [5] que intensificam o isolamento experiencial, criando territórios onde narrativas de ódio encontram terreno fértil para prosperarem sem o confronto com a complexidade do real. Estas câmaras de eco digital, portanto, não apenas falham em reconstituir o espaço público perdido, como potencializam precisamente os elementos que, segundo a análise arendtiana, pavimentaram o caminho para os horrores totalitários.
Outros dois artigos são desenvolvidos a partir de transformações sociais provocadas pela pandemia de COVID-19. Em um destes capítulos, Karolina Calhelha e Aline Barbosa examinaram as dinâmicas comunicacionais durante a crise sanitária que assolou o planeta. As autoras constroem sua argumentação sobre alicerces históricos, recordando-nos que o enfrentamento à COVID-19 não ocorreu em um vácuo institucional, mas em um sistema de saúde forjado por movimentos sociais significativos. O texto reconstitui a trajetória histórica da saúde pública brasileira, contextualizando a pandemia dentro do legado da Reforma Sanitária e do estabelecimento do Sistema Único de Saúde, para então examinar como esta corda institucional foi tensionada durante a pandemia do coronavírus. Deste modo, Calhelha e Barbosa evidenciam um preocupante espectro comunicacional que conecta desde pronunciamentos oficiais feitos pelo presidente da República naquele período (muitas vezes em contradição com recomendações científicas) até a proliferação massiva e descontrolada de desinformação nas redes sociais virtuais, criando assim, um ambiente informacional que comprometeu significativamente os esforços de saúde pública e influenciou comportamentos individuais e coletivos durante o período. Em complementaridade aos estudos sobre desinformação durante a crise sanitária, o artigo de Graziele Alves e Lucas Sartori oferece uma perspectiva igualmente importante, porém direcionada às reconfigurações provocadas pelo confinamento social. Apoiando-se sobretudo no arcabouço teórico da Teoria Ator-Rede [6] de Bruno Latour (2005) somada a dialética marxista [7] de Evald Ilyenkov (1982), os autores exploram como o período pandêmico não apenas intensificou nossa relação com os ambientes digitais, mas fundamentalmente reconfigurou nossa própria compreensão de identidade e presença no mundo. Em sua conclusão, Alves e Sartori reconhecendo os riscos inerentes a esta reconfiguração identitária mediada por plataformas comerciais centralizadas, advogam pela necessidade de repensarmos os processos de alfabetização digital, além de apontarem para caminhos alternativos através de estruturas tecnológicas descentralizadas, como plataformas de código aberto e redes sociais virtuais que priorizem a autonomia dos usuários sobre seus dados e interações.
A coletânea encerra a primeira parte (destinada a problematização das realidades virtualizadas) com dois estudos que abordam facetas distintas do consumo cultural digital. Felipe Ramiro oferece uma análise sobre os itens de consumo no universo do game Fortnite, um fenômeno que transcende o meramente lúdico para se estabelecer como um complexo sistema comunicacional e gerador de status. Sua pesquisa adquire grande relevância quando contextualizada dentro de um setor econômico-cultural em vertiginosa expansão. De acordo com o relatório da empresa de consultoria Newzoo (2025), o setor deve alcançar US$ 213,3 bilhões em receita global até 2027, números que superam as indústrias cinematográfica e musical combinadas [8]. Neste contexto, Ramiro demonstra como estes itens digitais (denominadas de skins) não constituem meros adereços estéticos, mas funcionam como sofisticados mediadores da experiência do jogador, carregados de valor simbólico e organizados em categorias que refletem e reproduzem hierarquias sociais no espaço virtual. Em diálogo com esta análise, Milena Bannwart direciona seu olhar para a plataforma Spirit Fanfics [9], explorando como este espaço de produção literária colaborativa e alternativa reconfigura as relações entre autor, texto e comunidade, oferecendo assim uma perspectiva complementar sobre como as realidades virtualizadas não apenas reproduzem, mas também transformam criativamente as práticas culturais contemporâneas. Este universo de fãs-criadores, como argumenta a autora, não representa meramente espaços alternativos de publicação, mas laboratórios de experimentação narrativa onde as fronteiras entre autor, leitor e texto são continuamente renegociadas, transcendendo as lógicas comerciais e autorais dominantes e estabelecem novas possibilidades de relacionamento com os objetos culturais contemporâneos.
Resistências das realidades virtualizadas
A segunda seção da obra aborda uma perspectiva analítica que, embora ainda ancorada em problematizações teóricas, direciona seu olhar para as potencialidades de resistência que emergem nas realidades virtualizadas, com particular ênfase no ativismo digital. Esta abordagem se evidencia em dois estudos que, juntos, oferecem um panorama das diversas manifestações do feminismo em espaços digitais. No primeiro trabalho, Inês Godinho e Maria Torres desenvolvem uma análise etnográfica de um coletivo feminista universitário situado em uma instituição privada paulistana, destacando como estes grupos mobilizam as redes sociais virtuais na construção de suas identidades coletivas e estratégias de ação política, um fenômeno que as autoras situam teoricamente no contexto da “quarta onda feminista”. O segundo estudo, conduzido também por Maria Torres em colaboração com Juliana Silva, transcende os muros acadêmicos para examinar o fenômeno do “Slam das Minas SP”, que são batalhas de poesia protagonizadas por mulheres da periferia de São Paulo. O texto demonstra como o Poetry Slam[10] passou por uma significativa metamorfose mediante um giro feminista que expandiu seus horizontes políticos e estéticos, incorporando perspectivas de gênero e demandas feministas específicas das periferias, e assim, criando conexões vitais entre expressão artística, territorialidade e resistência política no contexto das margens urbanas da capital paulista.
O debate sobre o ativismo digital prossegue ainda com dois capítulos que examinam formas de resistência contra normatividades opressoras que constrangem identidades e corporeidades diversas. O trabalho de Afonso Machado oferece uma análise das práticas gordofóbicas contemporâneas e das resistências que a elas se contrapõem, particularmente através do Movimento Corpo Livre e da trend “tour pelo meu corpo”, fenômenos que ganharam visibilidade nas plataformas Instagram e YouTube. O autor demonstra, a partir da teoria de Foucault (1988, 2005), como mecanismos biopolíticos [11] operam na fronteira entre o “fazer viver” e o “deixar morrer”, relegando corpos gordos (especialmente os femininos) a um estado de subalternidade marcado por representações associadas à doença, feiura, letargia e repulsa. Neste contexto, as manifestações ativistas analisadas emergem não apenas como contestações estéticas, mas como práticas políticas que desafiam regimes visuais e discursivos que sistematicamente excluem, hostilizam e desvalorizam corporeidades divergentes do padrão hegemônico.
Paralelamente, o capítulo de Évelyn Santos e Thiago da Rocha ilumina territórios ainda mais invisibilizados do ativismo contemporâneo: as comunidades virtuais de pessoas assexuais e arromânticas. fundamentando na teoria foucaultiana do discurso, os autores mapeiam os espaços de sociabilidade digital, onde estes sujeitos constroem narrativas de autoafirmação e reconhecimento mútuo. O trabalho revela como estas comunidades virtuais não apenas oferecem refúgio e acolhimento, mas funcionam como espaços discursivos onde se elaboram coletivamente novos vocabulários, repertórios experienciais e estratégias de visibilidade. Através destas práticas comunicacionais colaborativas, indivíduos assexuais e arromânticos transformam experiências frequentemente “patologizadas” ou invisibilizadas em posições identitárias legítimas, desafiando deste modo, a centralidade da sexualidade e do romantismo nas definições hegemônicas de subjetividade e afetividade humana.
A coletânea avança em suas reflexões sobre resistências com a análise cinematográfica desenvolvida por Gabriel Kawata, que examina o filme Adoráveis Mulheres [12] como um artefato cultural que problematiza construções sociais de gênero. Kawata explora as trajetórias das irmãs March como representações do feminino no contexto anglo-americano do século XIX. O estudo se ancora nas contribuições teóricas de Carole Pateman e Judith Butler, permitindo ao autor estabelecer pontes entre a narrativa ficcional e as estruturas patriarcais que constrangiam as possibilidades existenciais femininas naquele período histórico.
Encerrando o panorama de pesquisas sobre resistências das realidades virtualizadas, o trabalho de Gabriel Souza nos transporta para os desafios políticos imediatos impostos pelo capitalismo digital. Fundamentando-se no conceito de governamentalidade algorítmica [13] desenvolvido por Antoinette Rouvroy e Thomas Berns (2018) a partir do léxico foucaultiano, Souza argumenta que testemunhamos o surgimento de uma nova modalidade de poder (algorítmico) que opera não mais sobre corpos estatísticos consolidados, mas sobre potencialidades comportamentais deduzidas de perfis informacionais. Esta forma de governo caracteriza-se por sua tolerância a irregularidades e contradições, uma vez que não busca mais disciplinar sujeitos constituídos, mas antecipar e modular condutas possíveis. Diante deste cenário, o autor examina os marcos jurídicos contemporâneos de proteção de dados, como a Emenda Constitucional nº 115/2022 e a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n. 13.709/2018) no contexto brasileiro, identificando suas limitações enquanto respostas fundamentadas numa concepção liberal-individualista que pode se mostrar insuficiente frente às complexidades do governo algorítmico em escala global.
Considerações sobre a obra
A presente obra, embora configurada como uma compilação de ensaios e investigações ainda em estágio preliminar de desenvolvimento, constitui-se como um corpus teórico-analítico de grande amplitude, que transcende as limitações tradicionalmente associadas a trabalhos em fase inicial de elaboração.
Um dos aspectos mais relevantes desta coletânea reside na articulação conceitual mediante a qual os diversos autores estabelecem conexões teóricas entre os clássicos das ciências sociais e as manifestações emergentes no contexto da virtualização das relações sociais contemporâneas. As teorias desenvolvidas por pensadores como Michel Foucault, Hannah Arendt e Pierre Bourdieu (para citar apenas alguns) é mobilizado com competência para examinar fenômenos recentes como o ativismo digital, as dinâmicas de vigilância algorítmica e as novas formas de sociabilidade mediadas por plataformas virtuais. Este exercício de adaptação conceitual revela-se particularmente proveitoso, não apenas por demonstrar a importância teórica destes autores, mas também por proporcionar aparatos interpretativos para a compreensão de fenômenos, que por sua contemporaneidade, ainda carecem de estruturas analíticas consolidadas na literatura.
Por fim, é necessário reconhecer que diversas das análises apresentadas na coletânea sugerem desenvolvimentos posteriores e aprofundamentos teórico-metodológicos (como seria de se esperar em qualquer campo de investigação dinâmico). Contudo, é incontestável que a obra estabelece fundamentos significativos para um programa de pesquisa sistemático sobre as realidades virtualizadas e suas implicações sociopolíticas. Ao delinear estas novas perspectivas interpretativas, a coletânea contribui não apenas para o avanço substantivo do conhecimento sobre fenômenos digitais específicos, mas também para a necessária renovação dos instrumentos analíticos das ciências sociais, capacitando-as para enfrentar os desafios epistemológicos impostos pelas transformações tecnológicas do século XXI.
Notas
[1] Conceito central na obra de Giorgio Agamben, particularmente desenvolvido em seu livro “Estado de Exceção” (2004). Para Agamben, o estado de exceção representa um espaço ambíguo entre a ordem jurídica e a vida política, onde a norma é suspensa sem ser abolida. Diferente da concepção tradicional que o considera um dispositivo provisório e extraordinário, Agamben argumenta que o estado de exceção se tornou um paradigma normal de governo na política contemporânea.
[2] Conceito elaborado por Achille Mbembe em seu ensaio “Necropolítica” (2003), que expandiu e reorientou a noção foucaultiana de biopolítica. Para Mbembe, a necropolítica representa uma forma contemporânea de soberania que se expressa fundamentalmente pelo poder e capacidade de determinar quem pode viver e quem deve morrer. Diferentemente da biopolítica, que se concentra no controle e gestão da vida, a necropolítica enfatiza a centralidade da morte e da destruição na racionalidade política moderna.
[3] Conceito desenvolvido por Pierre Bourdieu como uma forma específica de capital simbólico dentro de sua teoria mais ampla dos capitais. Para Bourdieu, o capital político representa um tipo de recurso ou poder que confere aos seus detentores a capacidade de mobilizar apoio, exercer influência e participar efetivamente no campo político. Este capital pode existir em duas formas principais: o capital político pessoal, baseado no reconhecimento e notoriedade do indivíduo (seja “capital heroico” resultante de ações extraordinárias ou “capital notável” construído ao longo do tempo); e o capital político delegado, que deriva da autoridade conferida por uma instituição política (como partido ou cargo).
[4] Conceito desenvolvido por Pierre Bourdieu como uma forma específica de capital simbólico dentro de sua teoria mais ampla dos capitais. Para Bourdieu, o capital político representa um tipo de recurso ou poder que confere aos seus detentores a capacidade de mobilizar apoio, exercer influência e participar efetivamente no campo político. Este capital pode existir em duas formas principais: o capital político pessoal, baseado no reconhecimento e notoriedade do indivíduo (seja “capital heroico” resultante de ações extraordinárias ou “capital notável” construído ao longo do tempo); e o capital político delegado, que deriva da autoridade conferida por uma instituição política (como partido ou cargo).
[5] O conceito de “bolhas virtuais” (ou “bolhas de filtro”, como também é conhecido) foi popularizado pelo autor norte-americano Eli Pariser. Ele desenvolveu essa ideia no livro The Filter Bubble: What the Internet Is Hiding from You, publicado em 2011. A ideia central é que algoritmos de plataformas como Google, Facebook e outras redes personalizam o conteúdo que cada pessoa vê, de acordo com seus comportamentos e preferências anteriores. Isso acaba “isolando” o usuário em uma bolha de informações que reforçam suas visões, sem exposição ao contraditório ou à diversidade de opiniões.
[6] Teoria Ator-Rede (Actor-Network Theory ou ANT): Abordagem teórico-metodológica desenvolvida por Bruno Latour, Michel Callon e John Law a partir da década de 1980, que propõe uma redefinição radical da sociologia e dos estudos de ciência e tecnologia. Para Bruno Latour, principal expoente desta perspectiva, a ANT rejeita as distinções a priori entre humanos e não-humanos, natureza e sociedade, micro e macro.
[7] Na interpretação do filósofo soviético Evald Ilyenkov, a dialética marxista constitui não apenas um método, mas uma lógica concreta para compreender o desenvolvimento contraditório da realidade material. Em suas obras “A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Marx” (1960) e “Lógica Dialética” (1974), Ilyenkov recupera a dimensão ontológica da dialética hegeliana, porém assentada no materialismo.
[8] De acordo com a Bain & Company (2024), a indústria global de videogames alcançou uma receita de US$ 196 bilhões em 2023, superando as receitas combinadas de streaming e bilheteria de cinema. Já as estimativas da Gower Street Analytics (2024) indicam que a bilheteria global de cinema atingiu aproximadamente US$ 33,9 bilhões em 2023 e segundo o relatório Global Music Report (2025) da IFPI, a indústria fonográfica global registrou uma receita de US$ 29,6 bilhões em 2024.
[9] Abreviação de “fanfiction“: é um tipo de escrita criativa em que fãs criam histórias utilizando personagens, cenários e universos de obras já existentes, como livros, filmes, séries de TV, videogames, quadrinhos ou qualquer outro conteúdo de mídia popular.
[10] Competição de poesia em que participantes apresentam seus poemas originais, geralmente sem acompanhamento musical, com limite de tempo para cada apresentação.
[11] Conceito desenvolvido por Michel Foucault que analisa como o poder político moderno governa e controla a vida biológica das populações através de mecanismos, políticas e conhecimentos que regulam corpos, saúde pública, natalidade e outros aspectos da existência física humana.
[12] Adoráveis Mulheres” (Little Women): filme de 2019 dirigido por Greta Gerwig, adaptação do clássico literário de Louisa May Alcott que narra a história das quatro irmãs March durante a Guerra Civil Americana.
[13] Conceito que estende a noção foucaultiana de governamentalidade para o contexto digital contemporâneo, referindo-se aos sistemas de poder e controle social baseados em algoritmos e big data que moldam comportamentos, decisões e subjetividades através de processos automatizados de coleta de dados, análise preditiva e personalização, frequentemente operando de forma opaca e sem supervisão democrática adequada.
Referências
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Arendt, H. (2012). Origens do totalitarismo. Companhia das Letras.
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Bourdieu, P. (2011). O campo político. Revista Brasileira de Ciência Política, 5, 193–216.
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Foucault, M. (2005). Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France (1975–1976). Martins Fontes.
Gower Street Analytics. (2024). Gower Street Analytics estimates 2023 global box office hit $33.9 billion. Recuperado de https://gower.st/articles/gower-street-analytics-estimates-2023-global-box-office-hit-33-9-billion/
IFPI. (2025). Global Music Report 2025: State of the industry. Recuperado de https://www.ifpi.org/wp-content/uploads/2024/03/GMR2025_SOTI.pdf
Ilyenkov, E. V. (1982). Dialectics of the abstract and concrete in Marx’s Capital. Progress Publishers.
Latour, B. (2005). Reassembling the social: An introduction to actor-network-theory. Oxford University Press.
Mbembe, A. (2019). Necropolítica: Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. N-1 Edições.
Newzoo. (2025). The PC & Console Gaming Report 2025. Recuperado de https://newzoo.com/resources/trend-reports/the-pc-console-gaming-report-2025
Pariser, E. (2011). The filter bubble: What the Internet is hiding from you. Penguin Press.
Rouvroy, A., & Berns, T. (2018). Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: O díspar como condições de individuação pela relação? In.: Tecnopolíticas da vigilância: Perspectivas da margem (H. C. Mourão et al., Trads., 1ª ed.). Boitempo.
Zuboff, S. (2020). A era do capitalismo de vigilância: A luta por um futuro humano na nova fronteira do poder. Ed. Intrínseca.
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