Ideias iniciais sobre a revolução da I.A. na Gerontologia

Esta nota crítica foi escrita em fevereiro de 2024.

“O mundo está envelhecendo”. Esta é uma frase recorrente nos dias de hoje, válida globalmente, até mesmo em países como o Brasil que costumava ter uma população jovem. Nos últimos doze anos, em relação ao censo de 2010, a população de idosos (pessoas acima de 65 anos) aumentou 57,4%. Pelo censo realizado em 2022, são 22,2 milhões de indivíduos idosos no Brasil.

Por um lado, temos novas drogas, vacinas e avanços tecnológicos na área da saúde são, em grande parte, responsáveis por essa realidade. Por outro lado, esse cenário também abarca um ao aumento no número de doenças crônicas degenerativas, como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial sistêmica (HAS), doença de Alzheimer (DA), entre outras. Doenças estas, que atingem fortemente essa faixa etária, criando uma demanda cada vez maior por cuidados para a manutenção da autonomia dessa população.

Com um número reduzido de cuidadores (formais ou familiares), associado ao fato de os idosos, em sua grande maioria, morarem sozinhos, têm surgido equipamentos e aplicativos (relógios ou colares, GPS, entre outros) que possibilitam o monitoramento em tempo real dos sinais vitais e alertam para alterações não só  cardiológicas como arritmias, hipertensão, mas também febre, quedas, ou outros eventos. Munidas de sistemas de inteligência artificial, essas tecnologias são de grande utilidade quando bem utilizadas, pois, minimizam riscos maiores para o indivíduo e o sistema de saúde como um todo, considerando que a prevenção é a melhor opção de tratamento e a intervenção precoce quando necessária gera menos custos.

Apesar desses avanços, ainda estamos longe de países como o Japão e outros economicamente desenvolvidos onde idosos convivem, por exemplo, com robôs na sua vida diária.  O Japão vem desenvolvendo inúmeras “tecnologias do cuidado” voltadas para idoso. Isso visa atender a falta de mão de obra face ao alto número de idosos no país. Entre elas estão óculos com realidade virtual para melhorar o cuidado ao manipular o paciente acamado, roupa com presença de sensores que estimulam cadeias musculoesqueléticas, cadeiras de rodas que permite ao usuário participar de danças com as mãos liberadas.

Em muitos desses países, onde a pirâmide etária se apresenta invertida (menor número de jovens em relação aos idosos), a inteligência artificial proporciona desde passatempos (jogos, entre outros atrativos) até robôs humanoides ou robôs similares a animais de estimação que podem trazer maior alento para a solidão dos idosos. Nesse contexto, os robôs passam a ocupar espaço nas relações interpessoais, um assunto que precisaremos discutir longamente na sociedade do século XXI.

Sem recursos humanos suficientes para cuidar da grande população idosa, os países ricos estão desenvolvendo tecnologias cada vez mais sofisticadas e “humanizadas”. Entretanto, até que ponto podemos confiar que estamos no caminho certo, qual exemplo ou mensagem queremos deixar para as próximas gerações.

A contrapartida desse contexto são também os dilemas éticos que se impõem: a coleta de dados pessoais, o viés preconceituoso do etarismo, a dificuldade em cuidar de uma população com múltiplas comorbidades. Para mitigar esses dilemas, a Organização Mundial da Saúde sugere algumas ações que incluam os idosos na tomada de decisão sobre seus próprios cuidados.

As necessidades da população idosa diferem das dos adultos pois, para ela, a o tempo passa mais lentamente e suas demandas básicas estão centradas no cuidado e autonomia. As t relações afetivas também são cruciais já que o ambiente social e afeito do idoso vai ficando cada vez mais rarefeito. Assim, cabe perguntar como a inteligência artificial pode contribuir para reduzir a solidão nessa fase da vida.

A tecnologia evolui rapidamente e todos precisamos envelhecer com o máximo de qualidade de vida e dignidade. Os especialistas estão longe de um consenso sobre essas temáticas  e é necessário incentivar a sociedade e os próprios idosos,  para que sejam mais participativos. Encorajá-los no início da fase do o envelhecimento a fazer parte de comitês governamentais e não governamentais, agências reguladoras, universidades e organizações sem fins lucrativos são alguns caminhos para que busquem eles próprio o atendimento e a revisão contínua de suas necessidades.

Referências

 World Health Organization (2022). Ageism in artificial intelligence for health Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240040793. Acesso em: 19 mar. 2024.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 19 mar. 2024.

JOHNSTON, C. (2022). Ethical design and use of robotic care of the elderly. Bioethical Inquiry 19, 11–14 (2022). Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11673-022-10181-z. Acesso em: 19 mar. 2024.

RUBEIS, G (2004). The disruptive power of Artificial Intelligence. Ethical aspects of gerontechnology in elderly care. Archives of Gerontology and Geriatrics. Volume 91, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0167494320301801?via%3Dihub. Acesso em: 19 mar. 2024.